No novo artigo da seção ABC da Indústria, do jornal Diário do Grande ABC, o CEO Eduardo Mazurkyewistz expõe os desafios enfrentados ao tentar acessar linhas de fomento voltadas à inovação. Apesar das boas condições anunciadas, a burocracia e as exigências acabam restringindo o acesso às pequenas e médias empresas. Como mudar esse cenário e garantir que o financiamento impulsione, de fato, a indústria brasileira?
O artigo completo está abaixo, leia e participe dessa discussão!
No artigo passado, falei sobre como os juros altos dificultam o investimento das pequenas e médias indústrias, tanto pelo custo elevado do dinheiro quanto pelas incertezas do mercado. A falta de investimentos gera um círculo vicioso: sem modernização, a competitividade cai e a economia desacelera ainda mais.
Hoje, quero abordar um tema que, em teoria, deveria ser a solução para esse problema: as linhas de fomento subsidiadas pelo governo. São recursos voltados para inovação, ampliação, aquisição de equipamentos e outras necessidades que ajudariam as empresas brasileiras a crescerem de forma sustentável. O problema? Na prática, esses recursos estão ao alcance de poucos.
Em 2019, a Indústria 4.0 estava no auge das discussões. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) iniciou um projeto para capacitar companhias na adoção dessas tecnologias e procurou nossa empresa para apresentar uma oportunidade: A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), banco federal de fomento, disponibilizava linhas de crédito subsidiadas para financiar essa transformação. As condições eram atrativas – carência de até 48 meses, pagamento em 10 anos e Taxa Referencial de -2% ao ano, dependendo do grau de inovação do projeto.
Quando soubemos dessas condições, ficamos entusiasmados. Procuramos a FINEP, que confirmou que a linha de crédito existia e que havia recursos sobrando para projetos alinhados com a Indústria 4.0, especialmente se fossem elaborados em conjunto com o SENAI.
Diante dessa oportunidade, iniciamos uma verdadeira jornada: investimos tempo, dinheiro e energia, acreditando no potencial do projeto. O plano era sólido, com payback estimado em quatro anos, o que significava que, ao fim da carência, a própria economia gerada pelo projeto cobriria os pagamentos restantes. Tudo fazia sentido.
Mas, então, veio o banho de água fria. Depois de meses de trabalho, descobrimos um detalhe crucial que ninguém mencionou no início: para acessar o crédito, era necessário apresentar garantias reais, como aplicações financeiras, imóveis ou fiança bancária. Máquinas e equipamentos, justamente os itens que seriam adquiridos com o financiamento, não eram aceitos como garantia.
Foi aí que entendemos a dura realidade: esse tipo de fomento, que deveria impulsionar a inovação e o crescimento da pequena e média indústria, acaba sendo acessível apenas para quem já tem patrimônio suficiente para não precisar dele. O crédito subsidiado, que poderia transformar o setor produtivo nacional, segue restrito às grandes empresas – enquanto as pequenas e médias continuam enfrentando barreiras, arcando com juros abusivos ou simplesmente ficando para trás.
Acabamos implementando parte do projeto, recorrendo a recursos caros no mercado, o que acaba dificultando o reinvestimento necessário para continuar crescendo. Essa foi a experiência vivenciada por nós e acredito que, para que mudanças reais ocorram, é fundamental que os empresários se organizem e façam suas vozes serem ouvidas de forma mais estruturada e coletiva. São urgentes a revisão e os ajustes das políticas de fomento, tornando-as compatíveis com a realidade de todas as empresas e não apenas das grandes corporações.
A mudança precisa vir de um movimento conjunto, que mostre o impacto dessas falhas no crescimento do Brasil como um todo, e que também coloque os pequenos e médios empresários como protagonistas da transformação econômica do país.
Eduardo Mazurkyewistz, sócio fundador da Mazurky Embalagens de Papelão Ondulado. Advogado, com especialização em administração de empresas e treinamento para empreendedorismo pelo SEBRAE, Mazurkyewistz é membro da Empapel (Associação Brasileira de Embalagens em Papel). É também vice-diretor titular do CIESP – São Bernardo do Campo (Centro Regional das Indústrias do Estado de São Paulo). Há mais de uma década no mercado, a Mazurky é uma empresa especializada no desenvolvimento e fabricação de caixas de papelão e acessórios de papelão ondulado.